No dia 21 de maio a Regional Sorocaba do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), por meio de seus núcleos de Relações Humanas e Segurança e Medicina do Trabalho, realizou a palestra on-line “Saúde Mental Durante a Pandemia”, em comemoração ao Dia do Trabalho e Dia da Indústria, celebrados em 1º e 25 de maio.
Ministrada pela psicanalista e jornalista Rita Bragatto, a palestra contou com a participação especial da advogada especializada em Direito do Trabalho, Andrea Valio e do coordenador do núcleo de Segurança e Medicina do Trabalho, engenheiro Ruy Jaegger Junior, que fez a abertura do evento.
“Precisamos de informações sobre a saúde mental neste momento em que já estamos há um ano e dois meses nesta situação de pandemia. Este é um tema muito atual e relevante para as empresas. Essa iniciativa do CIESP Sorocaba de trazer especialistas na área é muito importante”, destacou Jaegger.
De acordo com Rita Bragatto, o número de pessoas que buscam por tratamento e medicamentos aumentou consideravelmente durante a pandemia. “A venda de medicamentos psiquiátricos anticonvulsivantes e antiepiléticos aumentou 12,80% e de antidepressivos e estabilizadores de humor 13,84%. Os casos de suicídio também tiveram um aumento de 32%”, explicou a palestrante.
Outro dado alarmante, segundo a psicanalista, é o da depressão que acomete 300 milhões de pessoas no mundo, sendo que o Brasil lidera o ranking de casos na América Latina, com 5,8% da população com a doença. “Eu acredito que esse número seja ainda maior porque muitas pessoas nem sabem que tem depressão. Os transtornos de ansiedade fazem parte da vida de 260 milhões de pessoas e a síndrome de Burnout afeta 32% dos trabalhadores brasileiros. É muito importante podermos falar sobre este tema, principalmente aqui no CIESP devido sua representatividade”, ressaltou Rita, lembrando que os transtornos mentais são a terceira maior causa de afastamento no trabalho.
Uma das condições que propicia o desenvolvimento da depressão é o ambiente laboral, conforme explicou a especialista. “A falta de valorização profissional, o excesso de cobrança e os altos níveis de estresse são fatores que levam à depressão. Com a pandemia, tudo isso ganhou uma lente de aumento porque os escritórios invadiram as casas das pessoas, onde era para ser um lugar reservado e tranquilo. Sempre digo que os transtornos mentais são os acidentes de trabalho que ninguém vê. É muito importante que as empresas comecem a ter um olhar sobre isso e promovam um ambiente seguro para que os funcionários possam falar o que estão sentindo”, ressaltou a psicanalista.
A pandemia gerou também uma insegurança muito grande em relação aos empregos. “Muitas pessoas perderam seus empregos e essa situação que assola nosso país com milhões de pessoas passando fome também impacta o nosso emocional, além é claro das milhares de mortes pela Covid-19. Tem casos em que as pessoas não podem se despedir de seus entes queridos porque não tem funeral e isso tem um efeito devastador, uma vez que o funeral é um rito de passagem”, explicou.
Todos esses fatores aliados ao excesso de reuniões e ao imediatismo levam à sensação de que o profissional está trabalhando mais e sendo produtivo. “Saúde e bem-estar precisam ser prioridades. Além do risco de um esgotamento a longo prazo, o excesso de trabalho afeta a convivência entre as pessoas. Não é necessário ficar por dentro de tudo o que está acontecendo o tempo todo. Organize os canais por times e projetos, acompanhe somente o que faz sentido para o seu trabalho, estabeleça rotinas de alinhamento com a sua equipe, crie um ritual para encerrar o dia, planeje o pós-trabalho e se programe para o dia seguinte. Estar online não é estar disponível, o trabalho remoto não é um regime de plantão”, aconselhou Rita.
Mindfulness
Segundo a psicanalista, o profissional de Recursos Humanos precisa colocar em prática a empatia. “A empatia é tentar compreender os sentimentos e as emoções do outro, procurando experimentar o que o outro sente. É importante implantar um programa de saúde mental nas indústrias para regular ou humanizar a equipe. A longo prazo isso vai ter um impacto no ambiente do trabalho. A prática de mindfulness (atenção plena) é muito importante para enfrentar o estresse e já foi comprovado cientificamente que muda a plasticidade do nosso cérebro. Este é um recurso que as empresas podem implantar facilmente porque não requer nenhuma ferramenta especial”, concluiu.
Novas MPs
Durante o encontro, a advogada especializada em Direito do Trabalho, Andrea Valio também apresentou alguns pontos das medidas provisórias 1045 e 1046, publicadas pelo governo federal, no último dia 27 de abril. Essas MPs renovam, no âmbito trabalhista, as medidas emergenciais de enfrentamento da pandemia implantadas no ano passado, que perderam a eficácia em dezembro de 2020, com o fim do chamado estado de calamidade pública, estabelecido pelo Decreto Legislativo 06/20.
“Durante a pandemia surgiram vários problemas em relação aos colaboradores, mas também na parte econômica das empresas. A MP 1045/21 institui o Novo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, permitindo que as empresas realizem acordos para redução proporcional de jornada e salário dos seus funcionários, além de também validar a suspensão temporária dos contratos de trabalho. Para os colaboradores afetados, a medida propõe o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que será custeado pelo governo. Já a MP 1046/21 trouxe uma flexibilização da CLT para que o RH consiga garantir a sustentabilidade da empresa. Em resumo, ela permite que as empresas antecipem férias ou feriados, utilizem o banco de horas e adiem o depósito do FGTS. Além disso, algumas exigências administrativas em segurança e saúde no trabalho foram suspensas. O teletrabalho também ganhou destaque nesta MP, com o estabelecimento de regras que visam estimular a adesão do formato. Essas medidas vão ajudar no caixa da empresa e principalmente a manter os empregos”, explicou a advogada.
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